domingo, 17 de março de 2019

REVELAÇÃO

Tenho pavor de tuneis,de qualquer tipo ou tamanho.Tuneis longos demais,que não me deixam ver uma luz,uma saída logo a frente me apavoram. Corredores compridos e fechados,sem janelas ( desses que tem em todo hospital ) me despertam sensação de sufoco e desmaio.Minhas pernas ficam moles quando sou obrigada a transitar por corredores hospitalares para visitar alguém da familia.

Aqui em São Paulo, o pavor que os motoristas tem por túneis em dia de chuva,vem reforçar esse meu pânico inexplicável. Nem os túneis mega modernos que atravessam as rochas da serra na descida para o litoral me trazem sensação de segurança.Quando vou para a praia com filhas e netos,em cada túnel desfio uma Ave Maria para o transito fluir e não parar.

De onde vem e por que existe esse medo,esse trauma dentro de mim ?
 Corredores,elevadores,tuneis,me trazem sensação de morte,desmaio,sufoco e pânico. Será que em outras vidas,fui obrigada a transitar por algum corredor antes de morrer ?


Apesar de todo trauma,consegui percorrer um corredor lilás que ( misteriosamente ) apareceu no meu quarto em um domingo a tarde.

Eu descansava do almoço deitada na minha cama,quando um enorme corredor espelhado,de cor lilás,suavemente iluminado,se formou no teto,começando bem acima do meu armário de livros de cabeceira. Era  muito bonito,translúcido e tomava toda a parte superior do quarto.Parecia uma esteira d'água ( um espelho ) tal era a sua transparencia.O azul lilás que emanava desse túnel,se esparramava por todos o móveis,mas de maneira mais acentuada,sobre a minha cama. Sem saber para onde seria levada,senti meu corpo físico levitar até o assoalho do corredor lilás e intuí que deveria caminhar em direção a uma porta que estava bem no final desse túnel celestial.
Não senti medo, pavor ou sensação de sufocamento. Minhas pernas movimentavam-se lentamente e meus passos eram tranquilos. Eu estava calma. Então percebi que na parede lateral (translúcida e transparente do corredor ) existiam janelas sutilmente iluminadas,quase imperceptíveis,que refletiam ( conforme eu ia passando por elas )  imagens de pessoas desconhecidas para mim : uma mulher negra,um rapaz de chapéu e óculos,uma senhora idosa com xale e terço nas mãos,uma jovem dançarina de cabaré,um soldado escrevendo uma carta em campo de batalha,uma camponesa medieval,um minerador preso na mina,uma criança chorando em um quarto escuro,e por último,uma mulher de mãos dadas com uma criança,caminhando em um túnel longo,fechado e sombrio, que conduzia para a câmara da morte silenciosa por asfixia.
Em princípio eu não estava entendendo nada,até que finalmente,quando cheguei no término do túnel,pude ver minha prória imagem refletida na parede translúcida. Então minha ficha caiu. Imediatamente compreendi que o túnel me levara a uma viagem no tempo,e havia me mostrado todos os personagens que eu já havia assumido e vivido em vidas passadas.
A propriedade transmutadora da cor lilás,fez desse túnel,um túnel curador. Quando fiz o caminho de volta,as figuras haviam desaparecido e toda a parede lateral refletia apenas a minha imagem. De repente despenquei em queda suave até minha cama e o túnel desapareceu. 

Depois dessa experiencia,mudei de atitude comigo mesma : passei a me compreender melhor,aceitar minhas limitações sem revolta,e ter paciência comigo mesma. Agora consigo encarar meus medos sem constrangimento,e vivo em permanente estado de gratidão,por tudo que me foi revelado,visto e compreendido, através dessa vivencia transcendental ocorrida dentro do quarto.

                                  Maria da Penha Boselli*