GUARDANDO O SANTÍSSIMO 😴

Visitei o orfanato com o mesmo entusiasmo de sempre. Brinquei com as crianças,contei histórias e dei uma passadinha na capela para orar,ainda que rápidamente. 
No interior da pequena capelinha encontrei padre Miguel limpando pacientemente os apetrechos sagrados do Santuário do Altíssimo.

- Filha,alguém precisa manter as orações do Santíssimo hoje.Irmã Carmela está de cama muito gripada.Você se disporia a meditar em oração por meia hora ?

Aflita e pega de surprêsa,não consegui dizer que não ( embora estivesse louca para ir embora,tomar um banho e dormir cedo) 
Na verdade eu dormira muito mal na noite anterior.

Gaguejei nem que sim nem que não e a minha indecisão foi minha sentença. Padre Miguel estendeu os braços e colocou na minha mão um pequeno livro de oração para a prática das preces.Em seguida juntou objetos e paninhos de tirar pó,e se retirou da capela deixando-me a sós para o ato devocional,no mais absoluto silêncio sagrado.

Meia hora de oração…e eu caindo de sono cansada pra caramba.
Fraquejei na determinação e na fé, ciente de que - quando estivesse sózinha e mergulhada no silêncio - cairia em sono profundo encostada em alguma imagem de santo.Mas mesmo assim ajoelhei e  comecei a balbuciar indecisa as preces devocionais.
Nem cinco minutos depois,já me senti incomodada com os joelhos doendo e sentei.
Minha cabeça começou a pesar e bambear em cima do pescoço, e eu me entreguei a um cochilo rápido e delirante,com os olhos piscando o tempo todo.

De repente vi minha cama ao lado do Santuário, macia e aconchegante,com almofadas e tudo.
 Perguntei a Deus se era pecado rezar deitada,e antes que ele respondesse,me joguei afoita e cansada sobre a cama,sem me preocupar sequer em tentar entender o que acontecia.Claro que dormi.

Das duas uma : ou Deus exigia minha presença na capela,mesmo que deitada ( e por isso teletransportara minha cama até alí ) ou eu estava sendo tentada pelo demo.

Não sei quanto tempo dormi. Acordei assustada,com o corpo dobrado sobre o banco da igreja,com a boca toda babada e alguém chacoalhando meus ombros. Era irmã Dulce,que antes de se recolher para dormir, fora verificar se as janelas e vitrais da capela estavam fechados e dar uma última checada nos genuflexórios.

Misericórdia…que vexame.Que mico ! Levantei-me toda torta e cambaleante como um zumbi pedindo desculpas para irmã Dulce.
Saí da capela confusa e preocupada,questionando no meu silêncio interno,se minha cama ainda estaria no quarto quando eu chegasse em casa. 
Antes de cruzar a porta da pequena capela para a rua,olhei sorrateiramente para trás e fiz uma varredura rápida com os olhos pelo interior do santuário,na esperança de encontrar minha cama amoitada em algum canto, e me convencer de que não estava louca. .

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                               Maria da Penha Boselli* Maat* / 2019

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