quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

JANELA INDISCRETA

Janela indiscreta

Devido ao calor sufocante e insuportável aqui dessa cidade,resolvi abandonar meu antigo quarto de moça,e vir para o quarto da minha falecida mãe,que não tem janela escancarada para o lado do sol,mas sim para a rua transversal.
Minha cama é alta e daqui de dentro,no cantinho do quarto,visualizo com amplitude a esquina lá fora,além de algumas pessoas que passam embaixo da janela sem me ver e ( a vezes ) até param para fofocar e jogar conversa fora.
Já vi e ouvi de tudo.: mulheres magoadas com filhos e maridos,reclamações de escola,trombadas de carros e motos,moças lindas dirigindo com o dedo no nariz,manos de carro ( com som rachado e inaudível ) achando que estão abafando,gente “ bem “ com carrões ultimo tipo,jogando latinha de cerveja na rua, e mulheres maduras,dirigindo carros caros,jogando ( disfarçadamente / descaradamente ) restos de sanduíches e lanches no chão do asfalto.
Claro que ,nessa situação,me vem á memória aquele famoso filme de  Alfred Hitchcock  "
A Janela Indiscreta “. Daqui do meu mocó,posso testemunhar de tudo : situações bizarras e esquisitas,bate boca,beijos ocultos e apaixonados etc…Só não quero paranóia de crime e perseguição,perambulando pela minha janela. Sou da paz. Voltando pra Sampa,imediatamente esqueço tudo que meus olhos viram,meus ouvidos ouviram e minha mente captou. Pelo menos até meu próximo regresso á Taquaritinga.

                                           Penha Bosell*i / Maat 2015

                                   

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

SAMPA DA MINHA VIDA



Tu me estressas,me cativas,me seduz.
Sou uma paulistana financeiramente dura pra cacete. Nunca tenho grana pra curtir o que a cidade tem de melhor. Nào vou em teatro,cinema,e restaurantes caros. Nào tenho dim dim pra shows,baladas e grandes compras. Shopping...só pra ver virines,e ói lá.
Em shopping,nào compro nem churros. E vou raríssimas vezes,porque já cansei de passar mal com chiliques,taquicardia e claustrofobia.A luminosidade das vitrines e lojas me estressa por demais.
Odeio o trânsito de Sào Paulo. Me causa ansiedade,me deixa mal humorada e me lembra a primeira crise de pânico que tive embaixo de um viaduto num sábado a noite.
Frequento supermercados após as 21:00 ou durante horarios de novela (que é mais vazio ) pra nào me sentir sufocada.
Mesmo assim,insisto em voltar para Sampa.
Não dirijo mais sózinha em grandes avenidas,de um bairro a outro,mas insisto em voltar para Sampa.
Não gosto de ficar sózinha a noite no meu apartamento ( e não fico ) mesmo assim volto para Sampa.
Meu relacionamento com essa cidade, é um sentimento de amor e ódio.Tesão pela cidade, misturado com fortes doses de masoquismo psicológico e emocional.
Não conheço todos os teatro,mas conheço todas as farmacias homeopáticas. Não conheço todos os shoppings,mas conheço quase todos os espaços holísticos.Não conheço muitos restaurantes,mas conheço as igrejas mais importantes de cada bairro.
Sampa...porque insisto em voce ? Voce me desequilibra,me tira do sério, mas eu insisto em voltar para voce.
Quando estou com voce,penso em Taquaritinga. Quando estou em Taquaritinga,penso em voce. Dualidade perigosa,que pode me jogar nos braços de uma terceira cidade. Quem sabe ? Quem viver,verá.

                           Maria da Penha Boselli*  / 2013


domingo, 25 de outubro de 2015

SACHE MISTERIOSO

Entramos em casa e fomos direto para a cozinha. Minha filha disse :
- Depois desse japa,um chazinho vai bem,né? Quer um ?
Fiz que sim com a cabeça e fui pra sala.
Como a novela já tinha acabado,resolvemos assistir Shakespeare Apaixonado. O filme já estava na metade mas é muito bonito e interessante de ver.
Lá pras tantas,acho que minha filha cochilou,ou esqueceu que estava com a xícara de chá na mão,e se molhou inteira.Virou a xícara de boca para baixo e o resto do chá ,que ela não tinha bebido,se derramou na calça,na blusa e no sofá.
Pausamos o filme e acendemos a luz da sala para limpar a molhadeira.
Foi aí que demos falta do saquinho do chá. Procura,que procura...e nada ! O sache tinha desaparecido.Sumiu entre as almofadas e dobras do sofá.
Puxamos o sofá,chacoalhamos as almofadas,olhamos na roupa,no sapato que estava no chão,na blusa.Nada! Mistério.

Como pode?
De repente minha filha,num estalo,gritou:
- Nossa mãe,como somos burra!
Pensei. Somos ? Ué...não sabia disso.
- Eu fiz o chá com folha de melissa e coei no coadorzinho. Não usei o sache.
Fiquei com cara de. " uai "
Então era isso. Estava explicado o mistério do sumiço do sache.
Nessas alturas a sala já estava de pernas para o ar.
Voltamos para o filme. Já que tínhamos resolvido o mistério do sache,podíamos curtir em paz as misteriosas paixões de Shakespeare.

                                          PenhaBosell*i /  maat 2013

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

PASSARINHOTERAPIA

De cara comigo mesma
 

quem sou ?

onde estou e por que estou ?

Estou ou Sou ?

se sou...por que não me enxergo com clareza ?

sou pássaro ? ou sou gente ?

Se quero ser livre,sou pássaro.

Se quero ser tola sou gente.

Em algum momento da vida,a gente se depara com um espelho na cara.

Enxergamos a verdade?Ou apenas aquilo que queremos ver?

Com que olhos me encaro no espelho ? Com os olhos

físicos,ou com os olhos da alma ? 

Já dizia uma velha senhora sábia,porém de intenções duvidosas....

"...espelho,espelho meu..."

                                                      PenhaBosell*i / MAAT set 2015

sábado, 19 de setembro de 2015

FESTA DOIDA

Comprei minha vassoura de sacerdotisa lá na Disney, onde moram as bruxas e princesas,para ir bem paramentada á festa Hallowen. Nada mais justo,visto que desde menina escutava histórias de principes e princesas gerados na Fantasia do States. Alias,cresci achando que era uma delas.
Fiz a compra pela internet,e quando a vassoura chegou,vi no selo: “made in China “. Para meu desespero,não tinha direito a troca e minha vassoura só levanta voo com uma micro bateria solar que tem de ser trocada de hora em hora. E á noite ( sem sol ) ela te larga na mão. 

A varinha mágica,mandei buscar em Paris.Veio toda enfeitadinha com desenhos de uma guilhotina em miniatura.Só quando testei no meu gatinho ( toda bruxa tem um,né ? ) entendi o porque. Mal toquei a cabeça do bichano com a varinha,a cabeça dele rolou pelo chão que nem bola de pelúcia.
Mas os imprevistos não terminam aqui. Fui buscar meu caldeirão,lá no centro da cidade,em Sampa,perto da 25 de Março,em uma loja que só vende coisas para restaurantes. Fiquei muito frustrada,o material não era de ferro legítimo,muito pelo contrário. Tive que me contentar com um caldeirão que ( quando molha ) fica todo enferrujado.Decepcionante,porque o ferrugem altera o sabor das minhas poções.
Algumas amigas revoltosas ( nacionalistas radicais ) tentaram boicotar o Hallowen,convidando personagens nacionais para a festa : saci pererê,boitatá,mula sem cabeça,caapora,boto cor de rosa,mãe d’água ( Iara ) e escambau. Fiquei receosa dessa mistureira socio-cultural,achando que o clima ia ser “tenso”,mas para minha surpresa,a festa rolou até altas horas da madrugada,com  muitos relacionamentos bombando de maneira inusitada : saci pererê se envolveu com a Bela da Fera e levou uns cascudos ,quase perdendo a outra perna também. A mula sem cabeça fez sucesso, e ganhou o campeonato “cuspindo fogo “, de todos os dragões que estavam lá presentes.Os sete anões,resolveram perder o pudor. Tiraram a roupa e  ( pelados ) começaram a dançar ao redor da fogueira,a dança sagrada das bruxas,junto com Iara a mãe d’água que vive pelada também nos rios do Brasil.O Boto cor de rosa ( que de bobo não tem nada ) engravidou logo de cara,duas princesas :  Aurora e Branca de Neve.
Todas as bruxas e madrastas das histórias Disney estavam lá.Disputaram tantas magias, para ver quem era mais poderosa, que o feitiço realmente virou contra o feiticeiro : algumas viraram sapos,lagartos,pedras e morcegos. Outras ficaram anãs ou envelheceram de repente como ameixa seca.
Boitatá com aqueles olhos de fogo que tudo vê,revelou o que estava oculto no mato : dois príncipes namorando atras da árvore,cheios de paixão e trocando juras de amor.
Realmente...esse Hallowen vai ficar na história. Antes que pintasse alguma situação inconveniente para mim,levantei o camisolão de bruxa até a cintura e  vazei dalí correndo feito louca,porque a vassoura “made in China “me largou na mão. Caapora olhou pra mim com aqueles pés todo virado para tras e,com a voz rouca e olhos esbugalhados,com jeito de quem tinha enchido a cara de poções a noite inteira,disse : - Belas pernas ! 


Arrepiei. Dei no pé rapidinho que nem corisco. As intenções de Caapora não eram boas. Vai que...né. Eu heim ! To fora. Só levei comigo a varinha de condão. Em último caso, encosto ela na cabeça do Caapora ( as duas ) e fico livre do perigo.
Fui !Gente louca !
                                                            *PenhaBosell*i 
                                                                                                                                                                        MAAT 2015

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

EX BOX DESLIGA !

EX BOX DESLIGA !Jussara entrou em panico. Chegou na cozinha de sopetão com o olho arregalado,pedindo ajuda.

- O aparelho ligou e tá soltando luz no telão e na parede. Foi sem querer. Fui tirar o pó dos objetos ( entenda-se controles ) e um deles ligou.Não sei qual.
Detalhe : meu genro tem de sete a oito controles meticulosamente enfileirados no balcão,por ordem de prioridade, para usar na sala com o telão ( ex box ). Controles considerados mais valiosos que as piramides do Egito,mais intocáveis que a múmia do faraó Ramsés.
Respirei fundo e aflita. Quantas e quantas vezes ouvi minha filha falando pra empregada que não mexesse nos controles do telão,nem nas caixas de som e nem nos fios. Para não limpar,não tirar o pó e nem chegar perto.Quantas vezes vi meu genro surtando devido a fios soltos e caixas de som mal colocadas e fora do lugar.
Pedi um pouquinho de paciência para Jussara,para terminar o almoço no fogão.Ela voltou para a sala,e quando eu finalmente pude sair da cozinha,deparei-me com a empregada em pé de frente para o telão, ordenando aos berros  para o projetor do teto

- Desliga ! Desliga ! Desliga !

Tive que me segurar para não cair na gargalhada. A criatura,na sua simplicidade,imitava meu neto  quando dá comando de voz ao ex box,e gritava desesperada para o projetor desligar.

Aflita ( porque eu também não entendo nada ) chamei meu netinho de nove anos de idade para ajudar a descobrir,qual controle era o do projetor, que nessas alturas,mandava luzes e cenas de um jornal da globo pela parede inteira da sala,transformando o ambiente em saguão de exposição midiática. Imagens gigantes e coloridas pela parede me fizeram lembrar da novela dancing days.
Meu netinho também não sabia ( o pai não deixa mexer ) mas esperto como toda criança dessa nova era,propôs que fossemos por exclusão.

- Vovó…esse é da tv. Esse é do telão.Esse é do som.Esse é de games.

Menino esperto ! sobraram três. Um deles seria o causador do drama domestico.
Jussara apavorada e ciente da desobediência cometida,jazia parada em pé,no meio da sala,invocando Deus.
Num flash relâmpago de iluminação,resolvi fotografar os três controles e mandar para minha filha pelo whats up.Com certeza ela identificaria o obsessor correto.

- Lamento Jussara,mas minha filha vai ter que saber. Nos não vamos conseguir resolver entre a gente aqui.

Assim que minha filha viu as mensagens,ligou no meu celular espumando.
Ficou nervosa mas depois acalmou. Encheu-se de compaixão, quando descrevi a ela o estado emocional da empregada.

Menos mal. O whats up trouxe solução para a tragicômica comédia familiar e eu desci para levar meu neto até a perua escolar.

Depois desse episódio, Jussara ( traumatizada ) só transita pelo telão e seus apetrechos,virada de costas. Tirar pó dos controles ?
Nunca mais !

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

FOTOGRAFANDO CORAÇÃO

Quando bati essa foto logo pensei ( no meu devaneio ), e se...se...a minha máquina fotografasse o coração das pessoas ?
Pensou...? Olha isso : a pessoa está sorrindo para mim, e eu dou um zoom e um clique no coração dela. Aí aparece no visor, uma cortina embaçada de fumaça. Fumaça escura e espessa.
Dedução …? Ela está mentindo é óbvio.A boca sorri,mas o coração não.
Se estivesse sendo sincera,apareceria no visor uma rosa,uma flor qualquer,um algodão doce,né ? Uma imagem bonita e agradável aos olhos,tipo,passarinhos cantando...sei lá.
Ia ser interessante uma invenção dessa.Ninguém mais conseguiria esconder o que realmente está sentindo,quando fala ou se relaciona com alguém. Nenhum pensamento altivo ficaria oculto nas profundezas do coração,porque a máquina fotográfica revelaria.
Mas também seria bizarro...pensou ? O que ia ter de político nesse pais andando com as mãos no coração para se proteger...vixi !

*PenhaBoselli*
MAAT / 2012

terça-feira, 1 de setembro de 2015

LANCHINHO ESPIRITUAL

Amanheceu chovendo. Chuva mansa que cái fininha e ininterruptamente.
Mesmo sem movimento de trânsito na rua, alguém pressionou a mão na buzina ( sem necessidade ). Acordei de sopetão.
Mal sentei na cama,lembrei-me de um sonho.Coisa rara,porque geralmente nunca lembro de nenhum.
Sonhei que estava dentro de uma Igreja,era uma missa.
Na nave lateral direita de quem entrava,lá no fundo,tinham duas salas grandes com portas fechadas ( uma de frente para outra ). Bati em uma delas e uma mulher a abriu. Então eu escutei música e vi muitas crianças correndo,brincando e dançando dentro do salão. Parecia uma festa de aniversário. A mulher fechou a porta e eu me virei para o outro lado.
Então,vi uma mulher sentada numa cadeira antiga ( daquelas de bispo ) como se estivesse guardando a porta ( da outra sala ) que permanecia fechada. Perguntei :

- Aonde servem a comida ? 
A mulher apontou a porta da sala que estava zelando,e disse : 

- Não servimos mais a sopa,nem comida. Apenas uma latinha de coca cola,ou suco e um lanche. É mais prático.
Pensei comigo…sim,claro.Para as pessoas que vem para a missa depois do serviço,sem tempo de jantar,tá ótimo.É mais prático mesmo.
 


Entrei na sala, que estava estranhamente vazia de gente. Perto das paredes,mesas longas e estreitas tinham sobre uma toalha de renda branca,algumas caixinhas de suco, latas de coca cola e alguns sanduiches. Peguei uma latinha de coca e voltei para o genuflexório,onde minha filha me aguardava no meio de outros fieis, para assistirmos a missa.
Tudo parecia tão natural...as pessoas assistindo missa com um lanchinho e uma caixinha de suco ou latinha de coca na mão.
Vai entender...

                                                                      
                                                                       *PenhaBoselli* / MAAT / 2012                                                          
                     

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

ESCREVA,ESCREVA,ESCREVA

https://twitter.com/Boselli90
Quando voce estiver triste,escreva.
Quando voce estiver alegre,escreva.
Quando coisas boas acontecerem na tua vida,escreva e descreva.
Quando voce estiver angustiado,seja qual for o motivo,escreva.
A palavra escrita é um desabafo.Um bálsamo para as dores da alma.Traz alívio e sensação de descarrego.
Escreva,escreva,escreva.
Todos nós temos em nosso dna,uma partícula de Shakespeare. Tá adormecida,abafada e escondida. Pode se manifestar a qualquer momento,motivada pelas emoções de amor ou de dor. De qualquer maneira, não perca a oportunidade de escrever.O pássaro que não manifesta o seu canto,não exerce o dom da alma.
Experiencias reais,virtuais,irreais,mirabolantes,dão bons textos,boas histórias.Portanto,escreva. Se tiver quem leia, juntinho com voce,ótimo ! Bom pra voce. Se não tiver ninguém (como eu) escreva também,nem que seja para pessoas desconhecidas,mas que gostam de ler. É uma boa maneira de compartilhar vivencias,e emoções que ficam escondidinhas nas profundezas da alma,lá no fundo da nossa caverna,onde se acumulam experiencias vividas,na vida de hoje,e em outras vidas passadas.
Simplesmente escreva.



                                                                     *PenhaBoselli* / MAAT / 2013

DENGO DE DENGUE

Háá…como eu queria !
Queria ser uma mosquitinha da dengue. Queria sim ! Só pra dar uma picadinha rapidinha numa determinada pessoa.
O efeito ia ser devastador.
O cara vai ficar tão arrebentado,tão dolorido,tão dengado,que nunca mais se esquecerá da minha humilde presença nesse maravilhoso planeta. Saberá para sempre,da maneira mais denguenificante e triste,que eu passei por aqui.
Háá !...Como eu queria ser uma mosquitinha da dengue,para voar por aí,picando,picando,sugando e dengando uma certa pessoa que insiste em fingir que não existo.
Doce vingança…ve-lo todo dengoso,no sentido aedes aegypti. Doce dengança !
                                                       *PenhaBoselli*
                                                                                                        MAAT / 2013

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

MUNDO MUDO

Vejo carros passando na rua,mas não escuto nada,nenhuma buzina,nenhum barulho de motor.Vejo movimento de pessoas nas calçadas,mas não ouço vozes.
Tem crianças brincando lá embaixo no prédio,mas parecem mudas,caladas. Elas se movimentam sem emitir nenhum som… que estranho esse silencio.
Que silencio estranho...
Os passarinhos que voam por aqui,entre as árvores,não estão piando,nem cantando.Por que será ? Pulam de galho em galho mas não soltam nenhum gorjeio.
Nem o movimento das folhas das arvores, e dos galhos emitem sussurros. Vejo aviões atravessando nuvens sem nenhum zumbido,e helicópteros nervosos sobrevoando o céu,com hélices absolutamente silenciosas. Estranho…
Uma ambulância acabou de passar apressada,rumo a algum lugar com sua luz vermelha piscando e pedindo passagem: trombada ?acidente ? Mas a sirene está completamente muda. A ambulância não emite som.
O que está acontecendo ? Fiquei surda ? Ou o mundo é que está mudo ? Até tentei comentar qualquer coisa com alguém,mas minha voz,também não saiu. Estranho…
ROUBARAM O SOM DO MUNDO  !
 

O mundo sem som é um mundo mudo,silencioso,estranho e assustador.
 Ficaremos todos loucos,sem o som de musicas,palavras,cantos,ronco de motores,riso de crianças e gritos de dores. Morreremos todos sufocados por um silencio avassalador,irreversível e misterioso,que nos tira o som da água,do vento e do fogo.

Morreremos em silencio…em um mundo mudo onde o som já está morto.


                                                                     PenhaBoselli* / MAAT 2014

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

MEU PRIMEIRO AMOR

Meu primeiro amor,eu conheci quando tinha treze anos de idade,e vim para São Paulo (com meus pais) para operar as amigdalas. Logo que entrei no consultório dele,para marcar a cirurgia,me apaixonei.Quando ele chegou bem pertinho de mim,e mandou que abrisse a boca,nem precisou. Eu já estava com a boca aberta, escancarada e perdidamente apaixonada.
No dia seguinte,fui internada e segui para a sala de cirurgia. Sentaram-me amarrada numa cadeira enorme e ele disse que era para eu respirar fundo. Nem precisava ...eu já estava suspirando e respirando fundo fazia tempo. Mas obedeci. Quando a anestesia ( ou éter,sei lá ) começou a fazer efeito,vi uma luz verde muito forte,intensa,brilhando no escuro em que eu estava mergulhada. Essa luz tinha vida própria,era inteligente e falava comigo. A luz dizia que ia se expandir,expandir,até sufocar ( com aquele cheiro que eu estava sentindo ) todo o planeta terra. O mundo ia acabar.
Não me importei. Estava feliz,que só. Mesmo inconsciente,sabia que tinha encontrado o grande amor da minha vida.
Estava apaixonada pelo jovem médico que me deixaria tres dias de cama,com a goela doendo pra caramba,sem conseguir engolir nada ( nem a minha saliva ) que mais parecia uma baba grossa e gosmenta,misturada com sangue.

                                                            *PenhaBoselli*
                                                                                                        MAAT / 2014       

                                                       



sábado, 1 de agosto de 2015

FASE DAS FRUTINHAS

Maldita fase 29 do candy crush Estou presa nela,por mais de três semanas, com outra jogadora. Fiquei mordida,quando ela se libertou e foi embora,enquanto eu,fiquei atrelada a uma gelatina gosmenta,que não conseguia eliminar.
Ainda por cima tive que me humilhar, pedindo vida até para meus inimigos,para continuar jogando.
Agora,finalmente,depois de uma batalha insana,me libertei e fui para a fase 30 do candy crusch.
Estou aqui,com umas frutinhas que precisam ser empurradas para baixo.
A moça que estava comigo na fase 29,está láááá na frente,foi embora. Não sei se ela é boa mesmo,ou se passou de fase por acaso. 

Eu ja estava acostumada com a companhia dela na casinha 29. Agora, estou enroscada na 30 ( sabe Deus até quando) com outra companheira tão travada quanto eu.
Pela minha performance ( no jogo ) vou ficar por aqui até que estas frutinhas apodreçam.Será uma longa jornada.
Assim não vale.Esse joguinho está exaurindo meus neuronios ( tico e teco )
Licencinha...que tá vindo mais uma frutinha aí.

Cái maledeta,cái ! Teu lugar é lá embaixo. Cái !

               
                                                   *PenhaBoselli*
                                                                            MAAT / 2014
              

LEVANDO PITO

Sim...levei um pito. Fui repreendida pelo guarda.
Foi assim : estávamos no banco do Brasil ( eu e minha filha ). Ela conversando com a gerente e eu sentada quietinha na cadeira, aguardando como uma criança obediente. Aí,a palma da mão começou a coçar com o celular entre os dedos. Não resisti. Sá cumé,né ? Impulsivamente abri o celular,e resolvi dar uma olhada rapidinha no face. Comecei a fuçar nas mensagens e fotos,entrando instantaneamente,em relaxamento profundo. Até esqueci que estava dentro de uma agencia bancária.
De repente,ouvi uma voz grossa e pausada bem atrás de mim que dizia :
- Senhora...por favor, o celular. Dentro da agencia não é permitido.
De relance vi um vulto azul. Virei o rosto e vi um guarda,em pé nas minhas costas.
Vixi...que mico ! Lembrei -me da tal lei que proibe uso de celular nas agencias bancarias e - disfarçadamente -  desliguei o celular, junto com um pedido de desculpa e um sorriso bem amarelo.


Acontece que odeio lugares fechados e situações burocráticas que não se resolvem em menos de dez minutos. Fico extremamente ansiosa e o iphone fuciona melhor que qualquer frontal ou rivotril. Além de também ser tarja,ops...capa preta, kkkkk.
Enfim...lei é lei e existe para todos. Se bem que velhinhas e aposentados deviam ter tratamento especial, também no uso de celular. Catraca livre para quem tem mais de sessenta anos,no face,instagram,messenger,whatsup etc... principalmente dentro de agencias bancarias ,postos de saude, INSS etc... 

Mas...
                                             *PenhaBoselli*
                                                                                             MAAT /2013

quinta-feira, 30 de julho de 2015

A ROTINA E O TEMPO

Hoje ( como sempre tem sido desde que aposentei ) acordei,lavei o rosto com meu sabonete especial,passei minhas poções mágicas no rosto,e tomei meu café sossegadamente na mesinha da cozinha ( não sem antes mentalizar alguns sons e preces ) .
Mas essa rotina tranquila não existia antigamente na minha vida. Era tanta correria de um lado para o outro ( dar aulas,pegar e levar filhos pequenos pra lá e pra cá,médicos,pediatras,natação,ballet,handbol ) que uma vez cheguei na escola ( eu tinha cabelos longos com permanente,tipo Gal Costa ) com uma pequena escova de pentear,enrolada nos cabelos,pendurada na nuca. Foi uma colega que viu ,dentro da sala dos professores, e me avisou.
Eu sinto saudade dessa época,quando olho para meus filhos e vejo que cresceram e viraram adultos. Mas da vida louca e corrida que  eu vivia,não. Por isso ( hoje ) valorizo cada gesto realizado no meu dia,e na minha rotina pessoal ( praticados com calma,consciencia e observação ) tipo lavar louça suja dentro da pia,passar um creme no rosto,respirar profundamente sem pressa, ou fazer uma oração sem tempo marcado para acabar.


Não existe felicidade maior que ser dona do próprio tempo.
                                                                                 *PenhaBoselli*
                                                                MAAT / 2014

terça-feira, 28 de julho de 2015

PESADELO

A imagem não era nítida ...nem muito visível. Era um conjunto de  manchas nebulosas que se movimentavam em camera lenta e e em cores confusas, insinuando formas grotescas e feias. Na verdade,bastante esquisitas.
Cobri a cabeça com o lençol. Porque achamos que é possivel dissolver ou evitar um pesadelo apenas puxando o lençol sobre a cabeça ?
As formas grotescas persistiam. Flutuavam no escuro. Dançavam  como se quisessem passar uma mensagem,ou apenas me intimidar. Iam e vinham. Como era possível enxergá-las se os olhos estavam fechados?
Que bicho mais esquisito era aquele? Mole e melequento como geléia,envolto em água,composto de uma espécie de plasma azul e nadando como peixe? Não conseguia distinguir com nitidez se era um peixe voando no ar ou um pássaro mutante nadando na água.Ainda por cima,tinha dois olhos feios que me fitavam o tempo todo.
Vejam que bicho estranho…pintei a aparição enigmática na tela e fotografei. A coisa mutante está aí, bizzarra e ameaçadora. Que sonho aflitivo,que medo ! Pode crer… de madrugada e no quarto escuro é bem pior !
                                                    *PenhaBoselli*

                                                                                                MAAT / 2013

domingo, 26 de julho de 2015

TEQUILA

O que leva um homem a oferecer tequila a uma mulher,durante a fase da "conquista "?
Talvez a tequila contenha componentes químicos que alteram a sensibilidade feminina ?
Talvez a tequila atue nos corpos energéticos das pessoas envolvidas na situação,causando um relaxamento propício á sensualidade e libido ? Ou quem sabe,a tequila ( assim como nos rituais xamanicos ) abre caminhos,dissolve bloqueios e "cura "emoções limitantes e castradoras ,que impedem a troca física,emocional e mental,entre o homem e a mulher ?
Nas minhas visões intuitivas,eu o vejo oferecendo tequila para suas mulheres. E parece que elas gostam ( pelo menos se mostram bastante receptivas ).
Talvez ele esteja procurando a sua alma gemea,a sua primeira dama. 

Ele age como um xamã. Tem todo um ritual.Suas intenções são boas,elas gostam e pedem bis. Ele paparica,dá colo e faz carinho. Além de outras cositas mais.
Se tudo que vem,serve a um propósito maior,então que seja bem vindo o xamã,a beberagem e as preliminares. Viva a Tequila !
Eu,particularmente,prefiro o vinho ( demi sec,fino,blanc,gelado ).Gosto é gosto,fazer o que ? Cada um tem um número de sapato,um paladar,uma preferencia.
No universo, tudo é. E se assim é, que os céus abençõem o homem,a tequila o xamã e  a mulher.

                                                               *PenhaBoselli*
                                                                                                                      MAAT / 2014

quarta-feira, 22 de julho de 2015

TRAVESSIA

As aguas são profundas,mas na superfície tem luz.A escuridão está abaixo de mim,nada temo porque a luz me cerca por todos os lados.
Sei que a travessia é solitária,mas também sei aonde tenho que ir e aonde devo chegar.
As estrelas do céu,refletidas na água do lago,me colocam no centro de uma constelação cintilante. Existe melhor companhia,que a das estrelas,quando caminhamos só ? Pois se elas estão conosco ( ou comigo ) então todo o universo também está.
O caminho que as estrelas mostram,nem sempre é reconhecido,principalmente por aqueles que se distraem durante o percurso. É preciso ter olhos para ver e ouvidos para ouvir. Sim ! Porque as aguas sussurram segredos antigos e as estrelas nos trazem memoria akashica.
Nado tranquilamente,porque as aguas me reconhecem e eu as reconheço. Sigo em frente banhada em luz,e ciente que cada movimento,cada pequeno avanço está em consonancia com as coisas do céu e da terra.A travessia será tranquila. Não há o que temer.

                                      *Maria da Penha Boselli*
                                                                                                        MAAT / 2015 




terça-feira, 21 de julho de 2015

DETERMINADA

A idéia já está na minha cabeça.Mas admito ( para mim mesma ) que sou muuuuito preguiçosa para escrever.Invento desculpas e impedimentos. Priorizo qualquer coisa que me afaste do computador e do teclado. Até o mardito candy crush vira coisa importante,principalmente nas horas que eu não quero fazer nada.
Se voces querem contribuir para meu bem,parem de me enviar vida desse joguinho viciante. Ignorem meus pedidos de vidas extras,ou qualquer vida que possa dar continuidade ao jogo ( mesmo porque,sou péssima para raciocinar como montar brigadeiros e detonar bombas ) Daí,eu fico morrendo o tempo todo e pedindo vidas para continuar. Portanto,nem que eu peça,que eu suplique de joelhos,mandem vidas para mim. Só assim,poderei focar minha atenção em algum texto novo ou uma nova história no meu blogger.
Minha criança interior ainda não tem maturidade suficiente para o exercício da autodisciplina e auto policiamento,e por isso conto com voces. Há !...e tem mais.Se eu estiver mudando muito rapidamente de fases,e com tres estrelas no placar,saibam que não sou eu quem está jogando.É meu netinho de sete anos jogando no meu lugar. O moleque é um curisco para games. Já nasceu virtualizado e conectado, como quase todas as crianças dessa "nova humanidade "que está vindo aí. Tá no dna deles,pode crer.
Estou determinada a voltar para meu "croche ",e descartar o candy crush. Pelo menos  no croche ,vejo um resultado materializado do meu esforço. É um trabalho palpável que dá pra pegar,cheirar,tem corpo e peso. Tem consistência,tendeu ?
Vou me inspirar no viciante jogo virtual, e fazer um estilo de barras em croche, salpicadas de  bolinhas,quadrados e brigadeiros coloridos. Vai ser um croche diferente e inovador. Só que sem bombas explodindo pra lá e pra cá,sem limite de tempo para acabar e sem necessidade de ficar pedindo vidas para continuar.
Ao contrário do candy crush,no crochê  tenho minha vida inteira para terminar e muitas frutinhas coloridas para bordar.


                                                                                       *Maria da Penha Boselli*
                                                                                                                                        MAAT / 2013