terça-feira, 16 de junho de 2015

MISÉRIA SEM LIMITES

Deparei com um mendigo na calçada.Estava indo para o mercadinho aqui perto de casa e o homem ( ou mulher ? ) estava deitado no chão da calçada.
Homens e mulheres de rua,é comum a gente ver aqui em Sampa,com suas sacolas rotas,marmitas de isopor rasgadas e trapos imundos ao redor do corpo.Alguns carregam um cobertor que - de tão sujo - chega a ser impossível perceber a cor. Mas esse humano que vi hoje, conseguiu balançar o emocional de todas as pessoas que passavam na rua, inclusive o meu ( que já é frágil )
Geralmente tais personagens de rua,ficam num cantinho da calçada,embaixo de uma marquise, encostado no canto de um poste,ou ao lado de alguma garagem de portas fechadas. Em nada atrapalham a passagem dos pedestres que transitam pra lá e pra cá. Mas esse mendigo,não ! E por isso ele chocou. Porque não obedeceu limites. Esse homem,ou mulher,sei lá. ( nem dava para perceber ) parecia uma montanha de trapos e objetos,estava ocupando toda a calçada em sua largura,da parede das casas,até a sarjeta. Todo esparramado em sua penúria e miséria,sentado entre trapos,panos,e utensílios de isopor ,obrigava os pedestres a se desviarem pela rua,para poderem continuar seu destino. Inclusive eu,que me dirigia ao mercado.
Não tinha como não vê-lo.Não tinha como fingir que não se via. A criatura miserável bloqueava toda a calçada,era impossível não dar "de cara "com a cena e ter que se desviar dela. E por isso ele se tornou um andarilho ïnconveniente ".
Olhei,fiquei chocada,orei,me compadeci,e me desviei pela rua,como faziam todas as outras pessoas que passavam por alí.
Na volta,já com as sacolinhas de compra na mão,pude ver que o homem tentava engolir ( com a ajuda de uma colher ) pela lateral da boca,um caldo viscoso e sem cor,como sopa,ou qualquer comida líquida. Talvez estivesse com problemas na boca,não sei. Percebi que ele inclinava a cabeça para o lado,na tentativa de engolir aquilo que parecia qualquer coisa,menos sopa,e que estava dentro de um vasilhame plástico, ( de sorvete ) daqueles que a gente joga fora,quando o sorvete acaba. Choquei de novo.
To aqui escrevendo o texto,porque meu almoço já foi descartado.Está fora de cogitação. A cena não me sai da cabeça e não vou conseguir engolir nada mastigável,enquanto não esquecer o que vi. Sou fraca.Não consigo conviver com a miséria humana. Não dessa maneira,escancarada,despudorada, afrontosa e sem limites.
Choquei !

                                                                                      *PenhaBoselli*
                                                                                                MAAT / 2014